Parece uma ironia da história que da
mesma experiência que Hertz comprovou a teoria de Maxwell
sobre o comportamento ondulatório da luz, também
ter descoberto o efeito fotoelétrico que levaria a descrição
corpuscular da luz.
Basicamente o efeito fotoelétrico constitui na emissão
de elétrons de uma superfície metálica quando
incidida uma luz de determinada freqüência sobre esse
metal.
As experiências de Thomson mostraram que
metais continham elétrons. O mecanismo para ejeção
desses elétrons por absorção da luz incidente
envolveria a interação entre o campo elétrico
das ondas eletromagnéticas de luz e a carga elétrica
dos elétrons.
Além disso, a teoria eletromagnética mostra que
a amplitude do campo elétrico oscilan-te é proporcional
à raiz quadrada da intensidade da luz. Portanto:
Pela teoria ondulatória da luz, a energia cinética
dos elétrons emitidos seria proporcio-nal à intensidade
da luz incidente.
Isso torna difícil de se entender por que a energia adquirida
pelos elétrons ejetados é independente da intensidade
da luz, como mostram os resultados experimentais.
Outro ponto controverso, de acordo com a teoria ondulatória
clássica da luz, é que é necessário
um tempo muito longo para um elétron absorver energia suficiente
e escapar do metal.
Mas, o que acontece nas observações experimentais?
O número de elétrons liberados do metal dependia
da intensidade da luz incidente (co-mo esperado), mas a energia
cinética dos elétrons não variava com a intensidade
da luz.
A experiência mostrava que a energia cinética máxima
depende apenas da freqüência.
Nenhuma fonte de luz de alta intensidade, mas de baixa freqüência
conseguia liberar elétrons do metal.
Outra observação era que não havia um intervalo
de tempo entre a iluminação e a emis-são
de elétrons. Pela teoria ondulatória da luz, a energia
incidente é distribuída unifor-memente sobre a superfície,
o tempo necessário para que haja energia suficiente em
uma área equivalente a um átomo pode ser calculado.
Esse tempo seria de minutos ou até horas dependendo da
intensidade da radiação incidente. Entretanto, nunca
foi obser-vado tal intervalo, os elétrons são emitidos
imediatamente após a incidência da luz.
Em 1905, Einstein propõe uma explicação
para esse fenômeno que estava deixando muitos pesquisadores
confusos e intrigados.
Para explicar esses fatos, Einstein considerou que em vez da energia
luminosa se distri-buir igualmente pelo espaço no qual
ela se propaga, ela seria composta de quantas (pa-cotes ou quantidades)
de energia. A energia de um quantum (singular de quanta) é
pro-porcional à freqüência da luz incidente.
Quando um desses quantas penetra no metal toda sua energia e transferida
para um elétron. O termo fóton apareceu pela primeira
vez no título de um artigo escrito em 1926, “A conservação
dos fótons” pelo físico-químico Gilbert
Lewis.
Com essa hipótese explicam-se facilmente as observações
experimentais:
Como a energia dos fótons é diretamente proporcional
à freqüência, quanto maior a fre-qüência
da luz incidente, maior a energia transferida ao elétron.
Consequentemente a energia cinética máxima dos elétrons
também dependia da freqüência da luz.
Os elétrons precisam de uma energia mínima para
serem liberados do metal, essa ener-gia é chamada de função
trabalho do metal. Se a energia fornecida pelo fóton for
menor do que a função trabalho do metal, o elétron
não terá energia suficiente para escapar do metal
e não será emitido.
Essa explicação estava de acordo com as observações
experimentais e pela sua simpli-cidade poder-se-ia julgar que
seria de fácil aceitação entre a comunidade
científica.
No entanto não foi bem isso que aconteceu.
As equações de Maxwell (1864) que descrevem o campo
eletromagnético e a natureza ondulatória da radiação
eram bem aceitas no meio científico. Na teoria de Maxwell,
não havia possibilidade de inserção dos quantas
de energia e não aconteceria o fenômeno de interferência
da luz se esta fosse composta de corpúsculos pontuais.
Assim a hipótese de Einstein violava dogmas sagrados dos
físicos clássicos.
Em 1913 Einstein é proposto para a Academia Prussiana
e Planck, Nernst, Rubens e Wangel escrevem uma recomendação:
"Em suma, pode se dizer que dificilmente se encontrará
um, entre os grandes problemas em que a física moderna
é tão rica, para o qual Einstein não tenha
apresentado uma con-tribuição notável. Que
ele, por vezes, possa ter errado o alvo, nas suas especulações,
como, por exemplo, na sua hipótese dos quanta de luz, não
pode ser erguido como um obstáculo à sua candidatura,
porque não é possível apresentar idéias
realmente novas, mesmo nas ciências mais exatas, sem, por
vezes, se correr um risco".
Para bem se compreender o caráter revolucionário
da hipótese é suficientemente escla-recedor o seguinte
comentário de Millikan, escrito para as comemorações
dos 70 anos de Einstein: "Passei 10 anos da minha vida a
testar aquela equação de Einstein (para o efeito
fotoelétrico) e, ao contrário de todas as minhas
expectativas, fui obrigado, em 1915, a afirmar a sua verificação
sem ambigüidades, apesar da sua falta de razoabilida-de,
pois parecia violar tudo o que sabíamos sobre a interferência
da luz".
Contudo foi apenas em 1917 que A. H. Compton e P. Debye, de forma
independente, deduziram as conhecidas expressões da cinemática
relativista para a deflexão de um quantum de luz por um
elétron inicialmente em repouso.
Os resultados de Compton fizeram aceitar, definitivamente, a
idéia de que o quantum de luz é uma partícula.
Não é por isso de estranhar o premio Nobel de Einstein
em 1921 (mas só atribuído em 1922) "pela explicação
do efeito fotoelétrico".
O próprio Einstein chegou a comentar, em 1951, já
perto da sua morte em Março de 1955: "Estes 50 anos
de reflexão não me fizeram ficar mais perto da resposta
à questão: o que são os quanta de luz?".
Referencias
NUSSENZVEIG, H Moysés (2002) Curso de Física Básica
v.4 p. 249 Editora Edgard Blücher Ltda – São
Paulo
TIPLER, Paul A. (1981) Física Moderna p. 90; Editora Guanabara
Dois S.A. – Rio de Janeiro.
PAIS, Abraham (1995) “Sutil é o Senhor...”:
a ciência e a vida de Albert Einstein. Edi-tora Nova Fronteira
– Rio de Janeiro.
EISBERG, Robert Martin (1979) Fundamentos de Física Moderna.
Editora Guanabara Dois S.A. – Rio de Janeiro.
LAGE, Eduardo (2005) O centenário do quantum de luz. Gazeta
de Física v.28 p 04-09.